Entrevista a Dulce Machado: Coordenadora de Adereços e Decoração de Exteriores

Foi em 1998 que deu os primeiros passos naquela que viria a ser a sua profissão ainda hoje, a decopagem. Dulce, que coordena as equipas de adereços e decoração da novela Flor Sem Tempo, acredita que o segredo é haver um desafio constante a cada nova sinopse e fazer diferente e melhor.

1 - Fale-nos um pouco do seu percurso profissional.

O meu percurso profissional começou com a sitcom A Mulher do Senhor Ministro, para a RTP, em 1996, no já desparecido estúdio do Teatro Vasco Santana, na Feira Popular, e desde logo percebi que era este o caminho que queria seguir.

Comecei como assistente de cena e, mais tarde, na série Médico de Família, para a SIC, em 1998, percebi a necessidade de ter alguém responsável pela decopagem do texto e foi aí que iniciei o meu percurso na decopagem. Receber e interpretar o guião é o início de tudo e, do nosso lado, fica a responsabilidade de tornar todas as ações possíveis e, acima de tudo, credíveis.

Todos os adereços são pensados ao pormenor, imaginando, encontrando ou adaptando individualmente a cada personagem, a cada ação e a cada décor. São desafios diários, que partilho com a minha equipa, num ambiente criativo e bem-disposto! Fazer diferente e melhor!

Atualmente, coordeno as equipas de adereços e decoração de exteriores, um trabalho que é, sem dúvida, gratificante. Trago comigo muitas e diferentes produções, na sua maioria novelas, e foi, curiosamente, numa novela, e com base numa personagem, que um dia disse: “Quando for grande quero ser jornalista!” Era o meu sonho de criança e, mais tarde, percebi a magia da ficção ao chegar a quem a vê quando contamos uma história. Acabei por seguir um rumo diferente e é aqui que me sinto realizada!

Todos os projetos trazem novos desafios. No início, quando comecei, os desafios eram uns e, atualmente, são outros bem diferentes. Acredito que o segredo seja haver um desafio constante a cada nova sinopse!

2 - Como prepara, e com que antecedência, a composição dos adereços para uma novela, assim como as refeições?

Preparamos com a antecedência possível após a receção do guião. Numa primeira leitura, “sublinhamos” tudo o que é evento e adereços mais complexos e depois fazemos o levantamento de todos os adereços necessários para o dia a dia, mediante a planificação proposta.

Quanto aos adereços em si, fazemos uma pesquisa no nosso acervo de decoração e adereços e, caso não exista o que pretendemos, vamos comprar, mas atualmente temos uma variedade imensa de soluções. Quando nada disto é possível, partimos para a construção, tanto de raiz como de reciclagem.

As refeições, tentamos sempre que o empratamento seja como uma tela em branco e os alimentos a pintura, que de uma forma simples sejam o destaque acompanhado com diferentes cores e texturas. Tentamos sempre que sejam o mais saudável possível e a ideia é funcionar visualmente e, no pormenor, apresentarmos uma refeição equilibrada. Atualmente, acresce a preocupação de evitar o desperdício alimentar, desta forma, caso seja um alimento só para exposição optamos por comida cenográfica.

3 - Que desafios novos lhe trouxe a novela Flor sem Tempo?

A novela Flor Sem Tempo trouxe vários desafios, nomeadamente a produção de vinhos, o mergulho, o padel e a confeção das tortas de azeitão. Todos estes temas tiveram de ser pesquisados, com a finalidade de adquirirmos conhecimento, para podermos transmitir, e até mesmo manusear, os adereços específicos de uma forma credível, sempre que isso seja solicitado em plateau. É também uma tentativa de encontrar os parceiros certos, seja para aquisição, empréstimo ou permutas.  Para além destes temas, a rua que temos em estúdio foi outro desafio proposto e concretizado com sucesso.