Entrevista a Tiago Marques: Realizador de FLOR SEM TEMPO

Para assinalar o arranque da nova produção SP Televisão, Flor sem Tempo, continuamos a apresentar-lhe algumas das caras que trabalham diariamente para o resultado final, desde a autoria, aos produtores e realizadores, passando pelos atores e equipa técnica.

O Tiago Marques começou desde cedo a dar os seus passos na área do audiovisual, passou pela NBP, viu nascer a SP Televisão, entretanto foi em busca de outros desafios profissionais, mas rapidamente encontrou o caminho de volta a Casa! O Tiago fez então parte do primeiro grande projeto da SP Televisão, Vila Faia, e agora é o Realizador do nosso mais recente sucesso – Flor sem Tempo.

 

Fale-nos um pouco do seu percurso profissional.

Licenciei-me em Cinema, Vídeo e Multimédia, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, onde tive o prazer de conhecer, entre outros grandes professores, o realizador Jorge Paixão da Costa. Destaco esse professor porque foi com ele que pisei o plateau pela primeira vez (na curta-metragem Quatro por Quatro, o triunfo da forma), e foi também ele que me deu a oportunidade de trabalhar profissionalmente nesta área, convidando-me para fazer uma série como seu assistente de realização (Sociedade Anónima). Foi o início de uma ligação à NBP (a atual Plural Entertainment), produtora que me acolheu e que me permitiu desenvolver profissionalmente, tendo colaborado em vários projetos, nas mais variadas funções, dentro dos departamentos de produção e realização. Em 2007, sou convidado a embarcar na aventura de ver nascer a SP Televisão, onde tive o prazer de colaborar na telenovela Vila Faia, a primeira grande produção da SP Televisão, assim como na série Liberdade 21. Regressei à Plural após esse período de cerca de dois anos na SP Televisão, e foi na Plural que comecei a realizar, em 2014, a convite do Jorge Queiroga. Depois de três telenovelas como realizador senti necessidade de experimentar outros formatos, e decidi sair da Plural, iniciando uma nova fase profissional. Nessa fase colaborei com várias produtoras, tendo realizado várias séries, de onde destaco Madre Paula e Circo Paraíso produzidas pela Vende-se Filmes para a RTP. Em 2020, tive a oportunidade de regressar à SP Televisão, e desde então já realizei três telenovelas sob a coordenação do Jorge Queiroga.

 

Sendo a telenovela um formato de longa duração, com muitas alterações ao longo do seu percurso, quais são, para si, as maiores dificuldades no trabalho de realização?

Eu não lhes chamaria dificuldades, gosto mais de pensar nelas como desafios e, de facto, realizar neste formato representa vários desafios. Desde já pela rapidez a que somos obrigados a executar; e não há como fugir ou alternar este problema do tempo, ele é intrínseco ao formato telenovela. Não nos podemos esquecer do contexto onde estamos inseridos, fazemos parte de uma indústria e, como em todas as indústrias, há um lado muito pragmático no que toca à produtividade. As produtoras têm de ser empresas viáveis e, compete-nos a nós continuar a lutar para que sejam viáveis, a bem das centenas de postos de trabalho que representam. Essa escassez de tempo inerente ao formato, se por um lado pode ser vista como uma dificuldade, por outro lado obriga o realizador a exercitar outras competências que são fundamentais para o bom desempenho da sua função. Desde logo a capacidade de identificar rapidamente o que é acessório e o que é fundamental em cada cena. Essa clareza no objetivo ou na função de cada cena dentro da estrutura narrativa, faz com que sejamos mais eficazes e consigamos perceber onde devemos investir algum tempo. Mas voltando em concreto à questão da duração do projeto, trabalhar em telenovela é como correr uma maratona. Temos de estar conscientes da distância a percorrer, e nesse sentido é fundamental saber gerir a energia ao longo das várias fases do projeto. É muito fácil começarmos um projeto altamente motivados, mas é difícil conseguir manter essa motivação durante os 6 / 7 meses. E entre gravações, leitura de guiões, reuniões, reperages, edição, etc., é muito fácil sermos engolidos pela máquina produtiva e começarmos a sentir que não temos tempo para tudo. Confesso que esta gestão foi difícil nos primeiros projetos que realizei, mas hoje em dia, com o método que desenvolvi ao longo do meu trajeto profissional, sinto-me bastante confortável com as exigências inerentes à realização de uma telenovela.

 

Que novos desafios lhe está a lançar a novela “Flor sem Tempo”?

 No início de um novo projeto questiono-me sempre como fazer melhor que o anterior? Como posso inovar e melhorar dentro dos constrangimentos inerentes ao formato? Como posso mascarar, no bom sentido da palavra, um produto industrial num produto artesanal? E se em alguns momentos da minha vida profissional me senti um pouco isolado nesta procura, tive o prazer de encontrar aqui, na SP Televisão, uma equipa de realização que partilha comigo essa necessidade. Coordenados pelo Jorge, eu, o Bruno Marques de Oliveira e o Ricardo Inácio, passamos muito do nosso tempo de pré-produção a encontrar essas respostas. Nesta novela, esse processo foi altamente produtivo, e arrisco a dizer que Flor sem Tempo é a novela mais bem conseguida que já fizemos juntos. Desde o primeiro dia de ensaios que se gerou uma onda positiva em torno do projeto, uma vontade partilhada entre atores e equipa técnica em fazer diferente, em fazer melhor. Essa onda tem-se mantido ao longo destes meses e tem-nos alimentado a todos. O talento dos atores, mas sobretudo a sua atitude implicada no processo, tem sido fundamental. Em relação aos desafios que esta novela nos lança, destaco a rua que construímos em estúdio. Foi uma aposta arriscada, gerou muitas dúvidas no início do processo, mas nem por isso tirou motivação e empenho a todos os que estiveram envolvidos no processo de construção. E se hoje é reconhecidamente uma aposta ganha, é mais do que justo direcionar esse mérito para a equipa de cenografia e decoração que a tornou possível. E já que mencionei alguns dos sectores da nossa equipa, é fundamental fazer justiça a toda a equipa técnica que trabalha connosco há já alguns projetos, e que nos obriga diariamente a elevar a fasquia.